sexta-feira, 2 de março de 2012

Caso Igor Xavier*



Dez
anos de impunidade e descaso das autoridades

Dez anos depois, os assassinos confessos do
bailarino Igor Xavier – o fazendeiro Ricardo Athayde e seu filho Diego
Rodrigues Athayde – continuam soltos. A impunidade revolta familiares e
população de Montes Claros. (...)
Igor, de 29 anos, foi assassinado de forma
covarde e cruel no dia 1º de março de 2002 com cinco tiros. Os primeiros
disparos foram feitos pelo filho, depois de chegar ao apartamento do pai e
surpreendê-lo na companhia do bailarino. Demonstrando frieza e premeditação,
eles executaram a vítima com mais dois tiros na cabeça. Em seguida abandonaram
o corpo em uma estrada entre Montes Claros e São João da Vereda. Os assassinos
são de família tradicional e de políticos influentes.
Ricardo Athayde é irmão do ex-secretário
adjunto estadual da Fazenda e subsecretário de Assuntos Internacionais da
Secretaria de Desenvolvimento do . Estado de Minas Gerais, Luiz Antônio
Athayde. Eles também tiveram proteção do prefeito de Montes Claros na época,
Jairo Athayde, de quem Ricardo é primo. Além disso, os assassinos têm para
defendê-los uma bancada dos mais famosos advogados do país, entre eles o
secretário de Estado de Defesa Social, Maurício Campos Júnior. O que mais
revolta a opinião pública, especialmente à mãe de Igor, Marlene Xavier, é o
fato de Igor Xavier ter sido morto devido à sua orientação sexual. O próprio
Ricardo Athayde declarou, em depoimento à policia, que odeia homossexual. (...)
O brutal assassinato mobilizou a cidade e teve
repercussão internacional. O poeta e agitador cultural Aroldo Pereira lembra
que no primeiro momento foi realizada uma grande manifestação saindo da Praça
da Matriz em direção ao Forum. O sociólogo João Batista de Almeida Costa, o
Joba, esteve com Igor uma hora antes de ele ser assassinado. “Igor Xavier era um excelente ator,
bailarino e um coreógrafo promissor.” Relata. Os assassinos puseram fim à
vida de alguém que sempre se preocupou com questões sociais e com a difusão dos
bens culturais. Igor Xavier era um artista tão comprometido com a população da
dança na cidade que se apresentava gratuitamente em qualquer lugar – ônibus,
paradas de coletivos, supermercados, praças de bairros, faculdades, escolas,
ruas, cadeia pública e muitos outros.
Após o bárbaro assassinato, várias ações
tomaram conta das ruas e do cenário cultural de Montes Claros. No sétimo dia,
por exemplo, quase 30 mil pessoas fizeram manifestação de repúdio, a maior da
história de Montes Claros. Como prova do envolvimento da sociedade em prol de
justiça, vários publicitários cederam e fizeram gratuitamente outdoors que
manifestavam opiniões sobre o acontecido. Em um deles, vinha a inscrição: “Que a justiça não se enlameie com o poder
da família dos assassinos de Igor Xavier. Não à impunidade.”

Decisão de Juiz protege os assassinos
O brutal
crime fez ecoar o grito de justiça por toda Montes Claros, Minas Gerais, Brasil
e pelo mundo afora. Só não foi ouvido pela justiça, que por causa do poderio
econômico e político dos assassinos, não se move. É cúmplice na tentativa de
defesa de fazer o tempo correr para que o crime prescreva. O julgamento foi
marcado várias vezes e adiado. No dia 20 de setembro de 2011, o desembargador
Reinaldo Porta Nova bateu o martelo, acatando pedido da defesa dos assassinos
de Igor Xavier, mediante representação do Tribunal do Júri e da Vara de Execuções Penais
de Montes Claros, Antonio de Souza Rosa. Num ato de extrema benevolência, o
magistrado pediu o desaforamento do processo para a capital mineira, alegando
que a mãe da vítima, Marlene Xavier, é uma ameaça à integridade física de
Ricardo e Diego Athayde. Ao interpretar que a mãe e o clamor popular poderiam
influenciar os jurados caso o julgamento fosse realizado em Montes Claros, o juiz
inverteu os fatos, transformando Ricardo e Diego em vítimas que precisam ser
protegidas. Para piorar, não há data estipulada para o júri.
“Que poder diabólico é esse que eu não sabia que
tinha? Até hoje
eu pensava que só sabia amar. É por amor que choro a morte do meu filho.” desabafa Marlene Xavier. “Não tenho como levar meus amigos a Belo
Horizonte, mas tenho certeza que aquele tribunal estará tão cheio de anjos que
mal haverá lugar para os que serão obrigados a comparecer.” disse. Para os amigos, desde o inicio a
justiça tem se omitido sobre o caso.
“A vizinha ouviu os tiros por volta das 2 horas e
ligou para a polícia, mas ninguém apareceu. Só depois das 6 horas da manhã
chegou uma viatura. Nesse momento nós já sentimos a influência política.”, desconfia Aroldo Pereira.
Para a
mãe, está ocorrendo uma infâmia. “Desde o
inicio o caso foi tratado com grande descaso pelos poderes públicos. Não sei se
chegarei a ver a solução desse caso, mas gostaria de viver até conhecer um juiz
que fosse idôneo e corajoso o bastante para enfrentar essa corja, fazendo valer
o óbvio e não dinheiro e poder.” diz,
indignada.

*(Extraido
do jornal “Daqui”, de Montes Claros – Ano IV – nº 20 - 20 de fevereiro a 05 de março)

Na noite
do dia 29 de fevereiro, um dia antes de se completar 10 anos do brutal
assassinato, artistas do Norte de Minas e de belo Horizonte se reuniram no
teatro da Assembléia Legislativa em um ato por justiça, por Igor Xavier.
Participaram do espetáculo “Arte Contra a Impunidade – Tributo ao Bailarino
Igor Xavier” os artistas Helena Soares, Jovino machado, Aroldo Pereira, Simone
Xavier, Patrícia Giseli, Carlos Farias, Geovanni Sassá, Makely Ka, Gilberto de
Abreu, Wilmar Silva, Márcio Levy, Wagner Torres, José Edward Lima, Pablo Leite,
Rogério Salgado, Brenda Marques, Wellington Kalil, Ênio Poeta, Bianca Luar, Yan
Guedes, Rosa Helena, Anelito de Oliveira e Diego Kartz.
Veja
fotos tiradas pela jornalista Brenda Marques Pena, presidente do Instituto Imersão
Latina, que também participou do espetáculo, em: HTTP://imersaolatina.ning.com

MEU
CARINHO E RESPEITO A ESTA MULHER, SÍMBOLO DE RESISTÊNCIA E LUTA POR
JUSTIÇA, MARLENE XAVIER, PELO DIA 08 de
MARÇO, DIA INTERNACIONAL DA MULHER.