quarta-feira, 26 de outubro de 2016

SHOW CRISTIANO LIMA E BANDA






Conheci Cristiano Lima há mais de cinco anos e acompanho todos esses anos, sua busca pelo aperfeiçoamento pela sua evolução musical e vocal. Com certeza ele nasceu para fazer o que sabe fazer de melhor na vida: compor e interpretar não só suas próprias criações, mas dar voz a composições alheias, dando-lhes vida como se fossem suas próprias criações e isso é talento, o que Cristiano Lima tem de melhor.
Seu CD de estréia, que tem como título, seu próprio nome (e precisa mais do que isso?) revela um autor e interprete de grande sensibilidade, o qual coloca sua alma naquilo que interpreta.
Dia 28 de setembro último, pude apreciar seu primeiro show 100% profissional, com todos os músicos possíveis que um artista de seu nível pudesse ter a seu lado, para se apresentar a um público que o acompanha e o admira. Totalmente solto, a vontade, Cristiano Lima estava longe daquele jovem que conheci tocando num Centro Cultural com tantas limitações e por isso, na época um tanto quanto inseguro. Dessa vez, como nas últimas vezes que tem ele se apresentado nestes últimos anos, estava totalmente seguro de si, confiante no seu talento, por isso nos apresentou um show leve e agradável, totalmente impecável.
Com direção musical de Daniel Viana e Cristiano Lima, Cristiano se apresentou acompanhado dos músicos Daniel Viana no piano, Natan Augusto na guitarra,
 Isaías Silva no baixo e Henrique Dener na bateria, com participações especiais de Felipe Assunção na flauta e Saskia no vocal; interpretando canções de seu CD e algumas inéditas, dos autores Alex Duarte, Júnior Almeida, Edison Elói, além de parcerias suas com Bilá Bernardes, e Rodrigo Starling e uma inédita com Virgilene Araújo. O show foi aberto por “Felicidade” de Alex Duarte; seguido de A história de um pequeno amor”, inédita de Edison Elói, De A a Zeus”, parceria com Rodrigo starling; Voz velada”, outra de Alex Duarte; Tecituras”, parceria com Bilá Bernardes, que com novo arranjo tornou-se um belo bolero;  Quem sabe”, também de Alex Duarte; “Os sinais”, inédita de Junior Almeida; O presente”, de Junior Almeida, que teve a excelente participação de Felipe Assunção na flauta e  da cantora Saskia, que deu uma nova vida a essa canção, com sua bela presença de palco;  A fome e a vontade de comer”, mais uma de Alex Duarte; Algodão doce”, parceria com  Edison Elói; as inéditas “Fique a vontade”, um excelente blues em parceria com Virgilene Araujo e “Verde”  de Junior Almeida, numa intimidade com o público, tendo voz e teclado de Daniel Viana.
Vencedor da primeira etapa do “Circuito de Bar” realizado pela AMAI, no Noir Cinebar, na Savassi, em Belo Horizonte, com votação expressiva pelo público presente, Cristiano Lima hoje, profissionalmente podemos dizer que tornou-se com a lapidação de suas experiências profissionais com o público, um artista seguro de si, desses que sabem dialogar com a platéia, sem cair na pieguice, misturando uma postura agradável de presença de palco, com interpretação musical. Se no aprendizado de sua estrada como artista, teve lá suas limitações, hoje é um artista completo, totalmente profissional, desses que além de, mesmo sabendo de seu talento, mantém a humildade como pessoa, tomando posturas profissionais diante do que deseja de si e para si, com olhos para o futuro. Sabemos que o que importa é o presente, mas através de uma postura séria, como tem feito ao valorizar seu próprio trabalho artístico, com certeza a longa estrada fará de Cristiano Lima, um artista compatível com os grandes da mídia. Quem viver, com certeza, verá.
Contatos com Cristiano Lima: crlima9@gmail.com 


Crédito da foto: Felipe Assunção

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

AUGUSTUS COTIDIANO E URBANDADE


Por Rogério Salgado

Quando em agosto de 2002, numa escola pública e marginalizada de Diadema – Eldorado\SP, o Grupo Divinos & Profanos, criados pelos alunos J.J. Arruda e Francisco Baker, que com o apoio da diretoria elaboraram e colocaram em prática o projeto Intervalo Poético, com a intenção de fomentar o hábito da leitura, talvez não imaginassem a importância desse trabalho para a história da literatura. Ao criarem o fanzine Augustus (pelo mês de agosto e homenageando o poeta Augusto dos Anjos). No inicio de 2003 o grupo agrega os poetas Ely Pires e Murillo Kollek, que participavam da oficina de literatura no Centro Cultural Inamar. E para mostrar a que vieram, o grupo agora lança a coletânea dos quatro poetas, intitulada: Augustus Cotidiano e Urbandade (Editora Celta).
Nota-se quatro poetas de estilos diferentes (cada um na sua), mas com uma questão em comum: usar a poesia como denúncia crítica e mostrar o mundo em que vivemos, onde o mais importante é o ter, e não o ser. E isso podemos notar neste ano de 2016, onde os interesses políticos valem mais do que os interesses do país, onde também culpamos muitas vezes defeitos governamentais, os quais cometemos no nosso dia a dia. Abaixo um pouco de cada poeta.
“Alimento,\bueiros putrefatos:\Papéis, Plásticos, Latas...\Amamento gastrite nervosa,\enquanto seborréias consomem-me...\Divido espaços deprimentes\com lençóis, louças, baratas...\Carteiros entregam-me\notícias e contas perniciosas...” (Pensamentos Arremessados Contra Tudo-J.J. Arruda). “No chão deito meu corpo.\Coberto por estrelas\durmo ao léu.\Papel jornal, forrado de letras,\revela meus sonhos.\O sino da igreja não despertou.\Ouço o silêncio,\sussurrando pelas gotas de orvalho.\Leve brisa\Choro sem ombro amigo\que me console.” (No Chão... – Francisco Baker). “Ao recanto dos santos,\vou a sua procura.\Olho para todos os lados.\Retorno ansioso\ao próximo domingo.” (A Sua Presença-Ely Pires). “Gosto do cheiro da madeira.\Ouvir os murmúrios de pessoas,\sentadas em suas mesas\saboreando as refeições do dia.\Mulheres bem vestidas.\Homens elegantes.\Crianças invisíveis.\Moças lançam sorte sobre\os rapazes.\Negociantes acertam o preço.\Há uma brisa que paira no terraço,\de onde deixo a fina chuva,\molhar meu rosto.” (Hotel Lisboa-Murillo Kollek).
Talvez os quatro autores nem tenham percebidos, mas Augustus Cotidiano e Urbandade corre o sério risco de ser um divisor de águas na moderna poesia brasileira. Mas isso, a história é quem dirá.
Contatos: Rua Caranguejo, 249 – Diadema – Eldorado\SP – Cep 09.971-100.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

SAUDADES DE KAPI

 
Em abril deste passado fez-se um ano sem a presença física em nossas vidas, do meu amigo Kapi.  Eu o conheci nos áureos tempos do Teatro Escola de Cultura Dramática, no qual tínhamos Orávio de Campos  Soares como Mestre. Era os idos da década de 70, plena ditadura militar. Kapi se enveredou pelos palcos e revolucionou com o teatro em Campos dos Goytacazes, interior do estado do Rio de Janeiro, minha terra natal. 
Nascido Antonio Roberto de Góis Cavalcanti, Kapi tornou-se um dos teatrólogos, diretores teatrais e poetas mais geniais que conheci. Ousado, Kapi lançou o primeiro nu frontal, para um ator, em Campos dos Goytacazes, trabalhou com Orávio em “O arquiteto e o imperador da Assíria” de Fernando Arrabal. O trabalho poético de Kapi está no “Manual da criação de ratos”, livro de 1984 com a poeta Eloah Marconi. Nele estão poemas como “Canção amiga”, “Sangue na cidade e “Aquarela”. A peça teatral “Pontal” foi baseada em poemas de sua autoria e de outros autores, tais como Aluysio Abreu Barbosa, Artur Gomes e Adriana Medeiros. Kapi também assinou a direção de “Romanceiro da Inconfidência” de Cecília Meireles e “Profanus”, peça revolucionária para a época, de Antonio Roberto Fernandes. Como ator, Kapi esteve em vários espetáculos, tais como “O pagador de Promessas” de Dias Gomes, com direção de Gildo Henriques, no qual interpretou um repórter. Ele inaugurou o novo Teatro Trianon, dirigindo a peça “Gota d`água” de Chico Buarque e Paulo Pontes. A última montagem assinada por Kapi foi “O Anjo Pornográfico”, de Nelson Rodrigues, encenada no Sesc em 2012.
Após 11 dias no hospital Ferreira Machado, Kapi se foi dia 2 de abril de 2015. Seu velório e enterro recebeu milhares de pessoas em sua despedida.
Irreverente e um cara a frente de seu tempo, ainda em vida Kapi deixou sua mensagem, de como queria que fosse lembrado: “Um desvairado que não coube em si”
Um exemplo de sua criatividade e genialidade está no poema “Um rio”. Escrito entre 1977 e 1978 este poema é o retrato perfeito do atual estágio do Rio Paraíba do Sul. Como bem disse Artur Gomes “Exemplo mais que perfeito de que Poeta é a Antena da Raça.” A lembrança de Kapi  sempre deixará  saudades. Abaixo o poema.
UM RIO
Era uma vez…
Um rio
Que de tão vazio,
já não era rio
e nem riachão,
tão pouco riacho.
Não era regato,
nem era arroio,
muito menos corgo.
uma vez…
um rio
que, de tanta cheia,
já não era rio
e nem ribeirão.
Era mais que Negro,
era mais que Pomba,
era mais que Pedra,
era mais que Pardo,
era mais que Preto,
bem maior ainda
que um rio grande.
Era uma vez…
um rio
que de tão antigo
era temporário,
era obsequente,
era um rio tapado
e antecedente.
Que não tinha foz,
que não tinha leito,
que não tinha margem
e nem afluente,
tão pouco nascente.
Mas que era um rio.
Não era das Velhas,
não era das Almas,
não era das Mortes.
Era um Paraíba,
era um Paraná,
era um rio parado.
Rio de enchentes,
rio de vazantes,
rio de repentes:
Um rio calado:
Sem Pirá-bandeira,
Sem Piracajara,
Sem Piracanjuba.
Em suas águas
não havia Pira
não havia íba,
não havia jica,
não havia juba.
Nem Pirá-andira,
nem Piraiapeva,
nem Pirarucu.
Era um rio assim:
Sem pirá nenhum.
Mas que era um rio.
Era uma vez….
Um rio.
Que, de tão inerte,
Já não era rio.
Não desaguou no mar,
não desaguou num lago,
nem em outro rio.
É um rio antigo,
que de tão contido
não é natureza.
Um dia foi rio,
há muito é represa.
Antônio Roberto Góis Cavalcanti (Kapi)



sexta-feira, 27 de maio de 2016

O MONSTRO DO ARRUDAS & OUTRAS LAMAS: DE FERNANDO RIGHI


Ser poeta ou escritor não se resume apenas a habilidade de escrever com técnica. Eu, por exemplo, não acredito nos escritores robóticos. Fernando Righi é um poeta e escritor de muita sensibilidade, aquela mesma sensibilidade que o faz perceber pormenores no seu cotidiano e os transforma em literatura e das melhores: O Monstro do Arrudas & Outras Lamas (Editora Ramalhete) nos revela isso, um livro de excelente qualidade literária, escrito por um escritor que não se propõe a ser famoso, num mundo onde medíocres buscam os holofotes.
Composto de 12 contos, O Monstro do Arrudas & Outras Lamas fala de Seu Antonio, que depois de perder a fé, encontrou-a em seu EU como forma de libertação; um colecionador de coisas sem utilidades, que perdeu seu tempo na vida em coleções e no fim descobre: - Pra quê?; O conto que dá título ao livro, bem caberia num filme hollywoodiano, por acima de tudo, conter um final poético; o drama do poeta para ser lido, talvez ainda fato corriqueiro nos dias atuais, nessa falta humana de sensibilidade; de forma sacana e com seriedade, Salvador, um boêmio qualquer que descobre provar de forma indireta aos técnicos da literatura, que um velhinho que usou apenas a sua sensibilidade (como Carolina de jesus fez em seu Quarto de Despejo) pode sim, escrever uma obra prima. Pena apenas que esse segredo não é revelado; após uma farra movida a várias geladinhas, num ménage à trois, as frustrações mais do que humanas do amigo de infância, transforma uma suruba numa tragédia de fazer inveja a Nelson Rodrigues; dois funcionários da politicagem se vêem num encontro fantasmagórico entre passado e presente e seus questionamentos os fazem repensar suas vidas; um valor a principio, desviado para caixa dois, é desviado para outras vias, levando Silva a descobrir uma novo rumo a sua vida; usando de metáforas, como a cor por exemplo, o autor nos mostra que interesses capitalistas manobram sim, nossas vidas e até a legislação política de quem não faz parte do esquema, mesmo que esse fato prejudique nossa ecologia; de maneira satírica, faz reflexões sobre a vida, no momento da morte por uma bala perdida (achada) num assalto a padaria; um jornalista em sua pauta diária, observa que os tempos politicamente, sempre foram os mesmos, apenas a gente é que não percebe; e por fim, o “Miniconto abobrinha” faz uma brincadeira gostosa de se ler com Beethoven e The Beatles.
Fernando Right é natural de Belo Horizonte. É jornalista, poeta e escritor. Incluindo esse O Monstro do Arrudas & Outras Lamas publicou dez livros, sendo que a estréia se deu com Estrelas nos Olhos, Vaga-lumes na Cabeça (2005). Publicou também em 2014 Construindo Beethoven peça a Peça, um compêndio que  analisa os diversos aspectos históricos e filosóficos que motivaram a criação das principais obras do compositor alemão.
O Monstro do Arrudas & Outras Lamas é um livro divertido, sério, reflexivo, escrito por um dos escritores que mais admiro neste país de poucas leituras, que fala da vida e de valores dessa mesma vida. Esse com certeza eu indico para quem gosta de uma boa literatura.


quarta-feira, 4 de maio de 2016

CARNE DE UMBIGO: DE MARIA REZENDE


Por Rogério Salgado

Dona de uma poesia visceral, porém de excelente qualidade literária e estética, Maria Rezende em seu Carne de umbigo (Edição da Autora) escreve como quem dialoga com o leitor, numa conversa íntima numa mesa de bar. Sua poesia é simples e aí é que está o grande desafio: escrever para ser entendida com facilidade, sem cair no simplesco ou lugar comum. E justamente por não obedecer a regras, sua poesia é livre de cercas, contratos de risco e burocracias (incluindo censuras), atingindo o leitor em cheio, encantando-o com sua delicadeza às vezes agressiva.
A poesia de Maria Rezende não imita ninguém, é autêntica e fala por si mesma, com a sinceridade que vem impregnada em seus versos. É uma poesia que dá a cara a tapa, expondo sentimentos, com a palavra enxuta na medida certa.
Vejamos: “A lua na janela\como uma injustiça\como um rapto\A lua na janela do quarto\em noite de nudez sem platéia\A lua cheia\barriga branca da baleia\peixe no aquário do sistema solar\A lua espelho\morta\sem luz própria\Na janela do quarto\contra o céu cor de petróleo\Braços se agitam\pés se contorcem\doem cabeças\corações\No Hemisfério Sul\na exata latitude de um abraço\tiro com suor alheio o preto dos olhos\Ela congela\eu incendeio\Eu nua na janela\A lua na cama entre os lençóis"
Maria Rezende em seus versos, fala de amor sem ser repetitiva, como quando diz: “(...)\Quando eu te vi você virou um tubarão\eu fui areia\fui espuma\imensidão\Eu elefante\você todas as formigas\eu gata branca\você tigre\escorpião\Eram seis listras num azul de fim de tarde\tinha uma luz inesperada sobre mim\Quando eu te vi o que era dentro virou fora\uma janela apareceu quando eu te vi”
Em meu livro Quermesses (e outros poemas profanos) (Belô Poético-2005), eu já dizia: “Palavras, o que são palavras\senão apenas sons emitidos pela boca\que se dependessem da moralidade\algumas seriam apenas\sons omitidos pela boca.” E isso se confirma quando Sebastião Nunes publicou Elogio a punheta e foi crucificado em pleno século XX e agora o poema “Malaysian Airlines”, o melhor deste Carne de umbigo, porque seria impublicável num jornal da capital mineira (quiçá, qualquer jornal), por causa de censuras da nossa tradicional família mineira (novamente, quiçá, brasileira) a palavras segundo a qual, seriam impublicáveis. Mas fica a curiosidade de quem queira ler impresso nas páginas do livro.
Com mais de dez anos de estrada literária, Maria Rezende é poeta, carioca, atriz, montadora de cinema e TV. Cozinha banquetes para pequenas multidões pedala uma bicicleta florida, dança sem música em dias nublados, é a medrosa mais corajosa que conhece e escreve muito, muito bem mesmo. E publicou três livros, incluindo este Carne de umbigo.
Publicado de forma independente, Carne de umbigo é um livro que mexe com a sensibilidade do leitor, até mesmo aquele que não curte muito poesia se encantará com a poesia de Maria Rezende. E quem diz que “Se a vida te der um presente\aproveita\Ela tem me dado vários\entre porradas e passos de dança\eu mastigo tudo em movimentos concêntricos\depois bebo chá verde pra digerir\(...) merece ser lida, relida, comida e mastigada com todo o respeito que os verdadeiros poetas merecem. Esse eu indico.

Contato: e-mail: mariadapoesia@yahoo.com.br – facebook.com: mariadapoesia